Foto: Toninho Oliveir/Prefeitura de Campinas
A Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República
(SEPPIR/PR) repudia veementemente os ataques desferidos contra comunidades
tradicionais de matriz africana em todo o Brasil.
Recentemente, ataques motivados pela violência religiosa foram praticados
contra casas de matriz africana nas cidades de Santo Antônio do Descoberto e
Águas Lindas, no estado de Goiás, mas sabemos que estes não são casos isolados.
Também há pouco tempo, o país ficou chocado com o ataque a uma família
brasileira praticante de uma religião de matriz africana no Rio de Janeiro. Uma
criança foi apedrejada, o que evidencia o grau de violência envolvida no
acontecimento. O motivo da agressão é, tão somente, que essa família integra
uma comunidade que segue as tradições e visões de mundo africanas que vieram
para as Américas no período escravista e que permanecem vivas no Brasil até
hoje, compartilhadas por milhões de pessoas.
Outro caso recente envolveu o falecimento de Mãe Dede de Iansã, na Bahia, uma
senhora já idosa, que sofria agressões sistemáticas de pessoas que a acusavam
de praticar uma seita demoníaca. O infarto que Mãe Dedé sofreu é interpretado
como resultado da tristeza e sofrimento causado pela situação. Independente da
causa mortis dessa liderança tradicional, a SEPPIR lamenta essa perda, e aponta
o componente racista desses ataques muitas vezes interpretados apenas como
intolerância religiosa.
O povo brasileiro tem liberdade de culto assegurada desde a República Velha, no
século XIX. Mas as práticas religiosas de povos e comunidades de matriz
africana e de terreiros seguiram sendo reprimidas e desvalorizadas. Por décadas
foi exigido que casas tradicionais tivessem registro na polícia para permissão
de funcionamento, por exemplo. Essa condição de segunda cidadania explicita o
racismo contido nos ataques feitos a essas comunidades, crime que vai além da
tolerância ou não a uma prática religiosa.
Os povos tradicionais de matriz africana e de terreiros se reconhecem como
unidades de resistência cultural no país. Esses coletivos se caracterizam pela
manutenção de um contínuo civilizatório africano no Brasil, constituindo
territórios próprios marcados pela vivência comunitária, pela ajuda mútua, pelo
acolhimento e pela prestação de serviços sociais.
A SEPPIR, por meio da Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial, envidará esforços
para que sejam apurados os fatos dessas e de outras agressões sofridas por
esses povos e suas comunidades, que são importante patrimônio cultural do
Brasil e da humanidade. É fundamental que o país esteja unido para enfrentar o
racismo em todas as suas manifestações, como forma de construirmos uma
sociedade democrática e sem discriminação racial.
http://www.seppir.gov.br/central-de-conteudos/noticias/nota-de-repudio
Publicado por: Cristina de Oruanan